2 de junho de 2010

Para Pais, Avós e Filhos

Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "EQUIPA FEMININA: TAÇA COCA-COLA":

Para quem é pai/mãe e para aqueles que o serão...
Texto de Affonso Romano de Sant'Anna

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios filhos.
É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estagnados.
Crescem sem pedir licença à vida.
Crescem com uma estridência alegre, e, às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias de igual maneira.
Crescem de repente.
Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.
Onde é que andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu?
Que é que aconteceu à pazinha de brincar na areia, às festinhas de aniversário com palhaços e o primeiro uniforme do infantário?
A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil...
E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça!
Ali estão muitos pais ao volante, esperando que eles saiam esfuziantes sobre patins e cabelos longos, soltos.
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas,
lá estão nossos filhos com o uniforme de sua geração:
incómodas mochilas da moda nos ombros.
Ali estamos nós, com os cabelos esbranquiçados.
Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar,
apesar dos golpes dos ventos, das colheitas,
das notícias e da ditadura das horas.
E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com nossos acertos e erros.
Principalmente com os erros que esperamos que não repitam.
Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos próprios filhos.
Não mais os pegaremos nas portas das discotecas e das festas.
Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação,futebol e do judo.
Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas.
Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, pôsteres, agendas coloridas e discos ensurdecedores.
Não os levámos suficientemente ao Playcenter, ao Shopping, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes comprámos todos os sorvetes e roupas
que gostaríamos de ter comprado.
Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afeto.
No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia
entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais,
páscoas, piscina e amiguinhos.
Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de chicletes e cantorias sem fim.
Depois chegou o tempo em que viajar com os pais
começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma e os primeiros namorados.
Os pais ficaram exilados dos filhos.
Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, de repente, morriam de saudades daquelas "pestes".
Chega o momento em que só nos resta ficar de longe
torcendo e rezando muito
(nessa hora, se a gente tinha desaprendido, reaprende a rezar)
para que eles acertem nas escolhas em busca de felicidade.
E que a conquistem do modo mais completo possível.
O jeito é esperar:
A qualquer momento podem dar-nos netos.
O neto é a hora do carinho ocioso e estafado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco.
Por isso os avós são tão desmesurados
a distribuírem tão incontrolável carinho.
Os netos são a última oportunidade de reeditar
o nosso afeto.
Por isso é necessário
fazer alguma coisa a mais, antes que eles cresçam.
Aprendemos a ser filhos
depois que fomos pais...
“Só aprendemos a ser pais
depois que somos avós...”
TENHA UM BOM DIA!!!

2 comentários:

Orlando Goulart disse...

Gostei muito de ler este texto!

Obrigado Anónimo!

sónia marinheiro disse...

Eu também gostei muito de ler este texto! Hoje em dia os pais têem cada vez menos tempo para os seus filhos, O que é pena! Há tempo para tudo (ginásio,piscina,café)mas para brincar,acompanhar ou simplesmente conversar com a criança/jovem, nunca á tempo...
Eu tenho 3 filhos,uma pequenina,um pré adolescente e uma adolescente e não é fácil conciliar as actividades,as horas de estudo,as brincadeiras da pequenita e a minha vida...mas eu tento estar sempre presente,eu sei o quanto é importante para eles e para mim. Sim ,para mim também...eles crescem demasiado rápido e tudo o que eu perder deles ,já não volta!
É bom que os pais "acordem" e que dediquem mais tempo ao que a vida nos deu de melhor...que são os nossos FILHOS!!!